Thursday, December 15, 2005

Vox

Que me vale um 25/12?

Por Luiz Guilherme Amaral


Vigésimo quinto Natal da minha vida, vigésimo quinto dia do mês. Seria cabalístico se tivesse algum nexo. Com vinte e cinco anos, já passei de várias fases que esta data proporciona: personifiquei Papai Noel (ele é apenas ‘Papai’, ou José Francisco), não me propus a achar que esta é a data que Jesus Cristo nasceu, pois me é infantil demais tampouco penso em ser vegetariano com aquele pernil que me sorri de forma marota. Mas algo me fascina nesta data: a cada ano ela chega mais cedo, e com isso, a publicidade em torno dela.

Teimo em crer que dentro de uns três anos, mais ou menos, Papai Noel chacoalhará sua sineta logo em Julho, para espanto de muitos e alegria de outros. As lojas já estarão cheias de vermelhos barbudos deixando as crianças ensandecidas e os pais aflitos, pois o décimo terceiro ainda está longe. De Julho até Dezembro, veremos anúncios maravilhosos como os da Coca Cola e outros minguantes, como os “varejões”, sempre do mesmo formato. Já imaginaram nosso amigo “quer pagar quanto?” buzinando em nossas orelhas por seis meses ininterruptos vomitando aquele monte de ofertas, com a desculpa de que "bancar o bom velhinho não tem peço"?

Particularmente, o Natal para mim tem o intuito único de ver meus amigos e parentes todos juntos. O ateísmo me permite pensar em coisas que vão além de fábulas orientais, como presépios, estrelas cadentes e reis magos. Até algum tempo não tinha visto nenhuma desvantagem em ser ateu, mas quando se é redator publicitário e lhe encarregam da tarefa de desenvolver cartões de Natal, tudo fica muito complicado. Em consulta com alguns colegas da agência onde trabalho, não consegui absorver o espírito de Natal, mas consegui compreendê-lo sob uma ótica própria a ponto de já me considerar uma espécie de “católico honoris causa”. Achei até que podia ser crismado depois daquela sessão bíblica.

Outra coisa que me deixa pensativo nisso tudo é o espírito de fraternidade que paira sobre os seres humanos nessa época. Demagogia ou não, é a época de se fazer em trinta dias o que não se fez em todos os outros, ou que até pensou-se em fazer, mas a preguiça, a pressa e as preocupações não permitiram. As estrelas de televisão, ascendentes e cadentes como as da fábula oriental, contorcem-se em mil poses distribuindo presentes para crianças que nem sabem porque elas (as 'estrelas') estão lá, muito menos os nomes, mas também não faz a menor diferença. Bom mesmo é o caminhão de plástico, a boneca descabelada e a sopa quente.

Enfim, o Natal vai embora. As crianças ficam felizes, os pais ficam felizes e com o bolso dolorido, Roberto Carlos vai a mais um especial de fim de ano e começa aquela nova pontinha de ansiedade. Desta vez, para encher a cara de uísque no Reveillon. Vinte e cinco Natais já se passaram. Deus não existe, isso para mim é fato, mas existe uma mesa cheia de pessoas queridas com um belo peru a nos esperar. Feliz Natal!

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