Vox
Que me vale um 25/12?
Por Luiz Guilherme Amaral
Vigésimo quinto Natal da minha vida, vigésimo quinto dia do mês. Seria cabalístico se tivesse algum nexo. Com vinte e cinco anos, já passei de várias fases que esta data proporciona: personifiquei Papai Noel (ele é apenas ‘Papai’, ou José Francisco), não me
propus a achar que esta é a data que Jesus Cristo nasceu, pois me é infantil demais tampouco penso em ser vegetariano com aquele pernil que me sorri de forma marota. Mas algo me fascina nesta data: a cada ano ela chega mais cedo, e com isso, a publicidade em torno dela.
Teimo em crer que dentro de uns três anos, mais ou menos, Papai Noel chacoalhará sua sineta logo em Julho, para espanto de muitos e alegria de outros. As lojas já estarão cheias de vermelhos barbudos deixando as crianças ensandecidas e os pais aflitos, pois o décimo terceiro ainda está longe. De Julho até Dezembro, veremos anúncios maravilhosos como os da Coca Cola e outros minguantes, como os “varejões”, sempre do mesmo formato. Já imaginaram nosso amigo “quer pagar quanto?” buzinando em nossas orelhas por seis meses ininterruptos vomitando aquele monte de ofertas, com a desculpa de que "bancar o bom velhinho não tem peço"?
Particularmente, o Natal para mim tem o intuito único de ver meus amigos e parentes todos juntos. O ateísmo me permite pensar em coisas que vão além de fábulas orientais, como presépios, estrelas cadentes e reis magos. Até algum tempo não tinha visto nenhuma desvantagem em ser ateu, mas quando se é redator publicitário e lhe encarregam da tarefa de desenvolver cartões de Natal, tudo fica muito complicado. Em consulta com alguns colegas da agência onde trabalho, não consegui absorver o espírito de Natal, mas consegui compreendê-lo sob uma ótica própria a ponto de já me considerar uma espécie de “católico honoris causa”. Achei até que podia ser crismado depois daquela sessão bíblica.
Outra coisa que me deixa pensativo nisso tudo é o espírito de
fraternidade que paira sobre os seres humanos nessa época. Demagogia ou não, é a época de se fazer em trinta dias o que não se fez em todos os outros, ou que até pensou-se em fazer, mas a preguiça, a pressa e as preocupações não permitiram. As estrelas de televisão, ascendentes e cadentes como as da fábula oriental, contorcem-se em mil poses distribuindo presentes para crianças que nem sabem porque elas (as 'estrelas') estão lá, muito menos os nomes, mas também não faz a menor diferença. Bom mesmo é o caminhão de plástico, a boneca descabelada e a sopa quente.
Enfim, o Natal vai embora. As crianças ficam felizes, os pais ficam felizes e com o bolso dolorido, Roberto Carlos vai a mais um especial de fim de ano e começa aquela nova pontinha de ansiedade. Desta vez, para encher a cara de uísque no Reveillon. Vinte e cinco Natais já se passaram. Deus não existe, isso para mim é fato, mas existe uma mesa cheia de pessoas queridas com um belo peru a nos esperar. Feliz Natal!
Por Luiz Guilherme Amaral
Vigésimo quinto Natal da minha vida, vigésimo quinto dia do mês. Seria cabalístico se tivesse algum nexo. Com vinte e cinco anos, já passei de várias fases que esta data proporciona: personifiquei Papai Noel (ele é apenas ‘Papai’, ou José Francisco), não me

Teimo em crer que dentro de uns três anos, mais ou menos, Papai Noel chacoalhará sua sineta logo em Julho, para espanto de muitos e alegria de outros. As lojas já estarão cheias de vermelhos barbudos deixando as crianças ensandecidas e os pais aflitos, pois o décimo terceiro ainda está longe. De Julho até Dezembro, veremos anúncios maravilhosos como os da Coca Cola e outros minguantes, como os “varejões”, sempre do mesmo formato. Já imaginaram nosso amigo “quer pagar quanto?” buzinando em nossas orelhas por seis meses ininterruptos vomitando aquele monte de ofertas, com a desculpa de que "bancar o bom velhinho não tem peço"?
Particularmente, o Natal para mim tem o intuito único de ver meus amigos e parentes todos juntos. O ateísmo me permite pensar em coisas que vão além de fábulas orientais, como presépios, estrelas cadentes e reis magos. Até algum tempo não tinha visto nenhuma desvantagem em ser ateu, mas quando se é redator publicitário e lhe encarregam da tarefa de desenvolver cartões de Natal, tudo fica muito complicado. Em consulta com alguns colegas da agência onde trabalho, não consegui absorver o espírito de Natal, mas consegui compreendê-lo sob uma ótica própria a ponto de já me considerar uma espécie de “católico honoris causa”. Achei até que podia ser crismado depois daquela sessão bíblica.
Outra coisa que me deixa pensativo nisso tudo é o espírito de

Enfim, o Natal vai embora. As crianças ficam felizes, os pais ficam felizes e com o bolso dolorido, Roberto Carlos vai a mais um especial de fim de ano e começa aquela nova pontinha de ansiedade. Desta vez, para encher a cara de uísque no Reveillon. Vinte e cinco Natais já se passaram. Deus não existe, isso para mim é fato, mas existe uma mesa cheia de pessoas queridas com um belo peru a nos esperar. Feliz Natal!
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