Sunday, February 19, 2006

Ombudsman

Como é ler um jornal

Por Luiz Guilherme Amaral

Vivemos no tempo em que a informação se dissemina de forma abundante e desordenada. Hoje e nos próximos anos, sobressair-se-á quem conseguir filtrar e ordenar as informações de modo que não haja perda de conteúdo e que seja certeira em seu público. Ao contrário da internet, o jornal consegue por muitas décadas passar a informação de maneira democrática e para todos os gostos, com uma linguagem que transita sobre vários níveis de repertório e que consegue informar, gerar debate, além de educar.

A linguagem utilizada no jornal deve ser única, transparente e ordenada, e o sucesso dessa combinação se deve à diagramação. Os jornais com mais “tempo de estrada” conseguem fazer com que o leitor saia de uma reportagem a outra sem que haja distração dos olhos para um elemento qualquer entre as colunas. Cada coluna tem seu “ponto áureo”, e isso evita a dispersão do leitor para outras partes da folha antes que ele termine a leitura. Obviamente, estamos supondo que o conteúdo seja de grande interesse por parte deste leitor. Alguns destes fatores não têm aparecido nas edições do Jornal Bom Dia de Sorocaba.

Ao que me consta, grande parte do projeto gráfico do jornal está nas mãos de publicitários, o que caracteriza um erro no tratamento gráfico do diário. Um jornal deve ser feito por profissionais do jornalismo, como editores, colunistas, revisores, entre outros. Este tratamento gráfico que se dá ao Bom Dia é o mesmo de uma peça publicitária, e isso acarreta em grandes falhas na transmissão da informação. A mais berrante foi nesta semana, quando noticiou-se em primeira página a prisão de três mulheres que traficavam maconha de Sorocaba ao Rio de Janeiro, onde foi estampada uma pilha de pacotes de maconha sobre a marca do Jornal e informações desencontradas com o conteúdo das laudas. Jamais um jornal pode macular a sua marca em função de uma notícia que por muitos pode não interessar, ainda mais desta forma esdrúxula. Uma capa de jornal não é uma capa da revista 'Caras', onde rostinhos lindos fazem mais sucesso que o próprio nome do meio de informação.

Ora, o grande atrativo de um jornal não são apenas as notícias, mas sim as maneira que ela se dispõem ante os olhos do leitor. O Bom Dia traz alguns avanços em qualidade gráfica que são indiscutíveis em comparação aos seus concorrentes, porém todas as informações são um grande emaranhado de blocos de texto que não seguem uma ordem lógica aos olhos de quem está acostumado a ler jornal. Compara-se a uma versão do 'Notícias Populares' com mais verba e mais recursos. Não obstante, a brevidade de certas notícias faz com que as mesmas pequem em conteúdo e base para serem publicadas. Em várias partes, nota-se que tudo parece uma conversa de “telefone-sem-fio”, onde o repórter relata os fatos como ouve-se dizer, ao invés de uma cobertura jornalística plena.

O Bom Dia traz algumas idéias significativas no que diz respeito à disposição de anúncios, com formatos e cores diferenciadas, resultando numa atratividade maior, porém tal atratividade enche mais aos olhos de que anuncia do que de quem está procurando o anúncio, e esta fórmula de maneira alguma pode atrapalhar o real motivo de um jornal: informar.