Monday, April 24, 2006

Ombudsman

Q.I.
Por Luiz Guilherme Amaral

Se eu me espelho em algum colunista, só pode ser Diogo Mainardi. Leio suas colunas tanto em VEJA como na internet de maneira vertiginosa, e cada vez mais fico impressionado como ele tem colhões para denunciar todas as patacoadas dos bastidores de Brasília. Nestas duas últimas semanas, ele mexeu em um vespeiro que pode trazer-lhe alguns problemas: mostrou as ligações da família do jornalista Franklin Martins em vários cargos públicos brasileiros.

Pelo relato da comunicação entre Diogo Mainardi e Franklin Martins posteriormente ao artigo, creio que eles jamais terão uma conversa amigável em solo terreno, se tudo depender dos “elogios” que Franklin fez a ele: “difamador, leviano, anão de jardim, doidivanas, bufão, caluniador, tolo enfatuado e bobo da corte”, sendo que Mainardi não concorda apenas com o último adjetivo e contesta: “de todos os insultos, só não aceito o último. Quem pertence à corte é ele, que tem irmão nomeado diretamente pelo Presidente da República”.

Tudo se trata de uma descoberta de Mainardi com relação à certas “facilidades” que ser parente de Franklin Martins abriga. Diz ainda que seu irmão, irmã, cunhados, concunhados e até sua esposa foram agraciados com cargos importantes por conta deste vínculo. Em suma, parece que, tal como Martins disse em resposta a Mainardi, sua família está repleta de “profissionais conceituados”, seja lá o que ele quis dizer com isso.

A verdade é uma só. Não há nada mais eficaz do que um belo networking, com muitos Q.I.s ("Quem Indica", explicando o título deste artigo). Uma rede de relacionamentos é algo muito valioso, por vezes até decisivo em se tratando de algumas contratações e cargos. O que me deixa pensativo, no entanto, é até onde possui Q.I.s pode ser uma coisa benéfica, haja vista que, no caso de Franklin Martins, ser amigo ou parente dele não parece ser uma grande vantagem, não.


Monday, April 17, 2006

Ombudsman

Lula Babá e os 40 ladrões
Por Luiz Guilherme Amaral

Fiquei sabendo que Brasília é um lugar chato para se morar. Alguns lugares são distantes para chegar e que as pessoas não são muito cordiais. Aí fiquei imaginando como seria na Câmara. Algumas salas são distantes para fazer lobby e os deputados não são muito cordiais em suas operações ilícitas.

Brasília é um lugar tão místico que até suas falcatruas têm relação com o imaginário infantil, não esse de hoje em dia, com os desenhos japoneses, mas com o anterior à minha época. É impossível não fazer uma analogia ao clássico ‘Ali Babá e os 40 ladrões’. Com suas várias versões, não vou arriscar o autor original dessa fábula, mas a semelhança com a denúncia do Ministério Público Federal sobre a quadrilha que beneficia o presidente Lula num esquema sórdido de lavagem de dinheiro, tráfico de influência e outras 'coisinhas mais' chega a ser cômica.

Nesta fábula, Ali Babá é uma figurinha do Oriente, que comprava e vendia objetos para sobreviver, quando se depara com uma caravana de 40 homens que chegam a uma gruta e seu chefe diz: Abre-te Sésamo. Pumba! A porta se abre e eles escondem seus roubos. Ali Babá fica impressionado com o que vê, pois ele não sabia disso, e quando os ladrões vão embora, ele mesmo se dirige à caverna e dá o mesmo comando para que a porta se abra, pegando um pouco daquela riqueza para si. Por fim, um embróglio faz com que todos os ladrões sejam presos e Ali Babá e seu irmão fiquem com a riqueza escondida.

Agora, imagine esta versão, mais próxima da verdade: Lula é uma figurinha de Brasília que comprava e vendia carisma e promessas, quando se depara com uma caravana de 40 deputados, banqueiros e ministros que chegam a uma Mansão (do Lobby) e seu chefe (José Dirceu) diz: Abre-te Santos! Pumba! A porta se abre e eles escondem contratos, extratos bancários e dinheiro em malas. Lula fica impressionado com o que vê, pois ele não sabia de nada disso, e quando os ladrões vão embora, ele pega um pouco daquilo para si e mantém sua mesma tática de ‘não sei o que se passa’. Por fim, um embróglio entre seus vários comparsas por causa das investigações da CPI e do MPF faz com que os nem todos os ladrões sejam presos e Lula e seus familiares fiquem com a riqueza, antes desviada de muito lugares, depois escondida.

Não sei até onde essa história vai, mas posso garantir que, diferentemente dos ladrões de Ali Babá, os outros ladrões do esquema de corrupção terão um destino muito mais confortável.

Monday, April 10, 2006

Ombusman

A figuração mais cara do Brasil

Por Luiz Guilherme Amaral

Qual a sensação de mendigar 10 milhões de dólares para fazer figuração numa viagem ao espaço com o simples propósito de mostrar a bandeira do Brasil? Marcos Pontes pode responder com a maior propriedade do mundo. Nesses dias vimos cenas caóticas de um brasileirismo descabido, além da glamourização da idiotice promovida mais uma vez pelo nosso presidente Lula, aquele que nada sabe e nada vê.

Como disse Roberto Pompeu de Toledo na Veja desta semana, a única coisa que o astronauta conseguiu colher no espaço, além dos feijões, foi a fama de otário por ingressar num programa espacial em que sua participação foi meramente de reserva de coadjuvante, além de se prestar a um papelão com as “teleconferências” promovidas pela Rede Globo, tendo que ouvir comparações com Ayrton Senna e se desdobrando em mil para mostrar uma bandeirinha do país.

Em uma de suas entrevistas a William Bonner, tive a nítida sensação de que ele era mais um pop-star global, e a entrevista foi conduzida como para um pop-star global: foram feitas perguntas de ensino fundamental até chegar ao cúmulo sobre a força de sua espiritualidade depois de ver o mundo girar. Realmente, pela primeira vez eu esperei algo mais da Rede Globo ao tratar desse assunto, mas levei uma portada na cara. Tudo foi superficial como sempre. Nunca aprendo mesmo.

O que eu me pergunto é: o que acontecerá com Pontes depois de sua ‘reabilitação’ à gravidade terrestre (haja vista que ele ficou tão pouquinho lá que nem dá tempo de estranhar)? Será que ele será comentarista esportivo com Galvão Bueno? Será que ele fará análises da previsão do tempo no Jornal da Globo? Será que ele fará uma ponta na Malhação como professor de astronomia, o assunto que ele menos domina? Não sei, é de se pensar, mas o que eu sei é que sua conta bancária ficará um pouco mais polpuda pela colaboração na campanha do candidato Lula e que, na pior das hipóteses, vai tentar arrancar mais uns 10 milhões do próximo governo para retirar clorofila de folhas de árvore em outra super mega expedição. Quem sabe, depois da missão ‘Centenário’ não venha a missão ‘Pelé’ ou até a missão ‘Comandante Rolim’. Ai, ai, Brasil...

Monday, April 03, 2006

Vox

Vida de Sorocabano – Prólogo
Por Luiz Guilherme Amaral

Que em Sorocaba a cultura para dirigir automóveis é estranha isso todo mundo já sabe. Já disse que sorocabano não deveria tirar carteira de motorista, mas sim porte de arma. Só que eu também sou sorocabano. Nasci aqui, estudo e trabalho, apesar de ter sido criado em Mairinque. Agora que também moro aqui, posso dizer que sou 100% sorocabano, porém com sentimentos diversos.

Pois bem, estava eu indo para o trabalho numa terça-feira ensolarada quando chego no cruzamento da Washington Luiz com a Carlos Comitre. Quem passa por lá diariamente sabe que este ponto não é um dos mais agradáveis para se atravessar, mas não é uma Faria Lima na hora do rush. Farol vermelho. Piso com confiança na faixa de pedestres, sempre de olhos nas luzinhas do semáforo. De repente, aquele vermelho que me trazia segurança e esperança torna-se o verde do meu desespero, pois eu sabia que jamais teria a prioridade naquela enorme faixa de pedestres. Eis que, no meio do caminho, os carros se agitam ferozmente e avançam em minha direção, no meio da faixa de pedestres. Quando vi, já estava a ponto de ser levado de carona por um capô quando levantei os braços, soltei impropérios válidos até a quarta geração dos motoristas e corri de volta para a calçada, como aquele jogo do sapinho do saudosíssimo Atari. Saí da faixa de pedestres. Retomei fôlego, esperei o sinal fechar novamente e então consegui atravessar, com uma cara de bode chutado e procurando meu maço de cigarros dentro da mochila.

O pior é que, inconscientemente, eu sabia que aquilo ia acontecer. Sabia porque estou em Sorocaba, porque os motoristas não respeitam pedestres, porque dirigem mal (não todos, mas todos os que estavam naquele cruzamento), e principalmente sabia porque era uma manhã de terça-feira ensolarada, e eu estava indo para o trabalho. No meio da faixa de pedestres.