Tuesday, December 27, 2005

Ombudsman

Isto É: A ciência encontra DEUS

Por Luiz Guilherme Amaral

A capa desta semana da Revista Época traz a reportagem de Darlene Menconi com colaboração de Luciana Sgarbi intitulada '“A ciência encontra Deus'”, a respeito dos vínculos entre a ciência e a fé, mais precisamente ilustrando que a ciência possui elementos que são ligados à fé e à existência de um deus.

Quando li a reportagem, notei que esta levanta dúvidas e fatos que não corroboram com a filosofia ateísta, nem com algumas premissas da filosofia, teologia e antropologia, necessitando que haja uma definição lógica sobre os componentes que foram inter-relacionados. Isto não quer dizer que saio em defesa dos ateístas, mas sim que os fatos reais mostram que estes dois assuntos (fé e ciência) estão mais distantes do que se imagina.

A princípio, não se pode fazer uma ligação entre a ciência, que é o estudo dos fenômenos naturais e a comprovação dos mesmos através do empirismo e a fé, que é um aspecto social, cultural e principalmente longe de ser empírico. A religião nada mais é do que a criação de proposições de caráter cultural com o intuito de confortar os seres humanos no que diz respeito à finitude da vida e ao “para onde vamos depois que morremos?”. Logo de cara isto já é evidenciado quando Márcio Fabri dos Anjos, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Teologia e Ciências da Religião, argumenta: '“A fé é uma condição humana, temos sede de Deus e nos ressentimos de um significado diante da idéia de finitude(...)”.' Vê-se a partir deste testemunho é que a religião é um estado que transcende as “leis terrestres” como o estudo fenomenológico da correlação entre elementos químicos e físicos e torna-se um apaziguador da própria aflição humana, fazendo com que o crente feche-se em uma redoma impossibilitando que outras idéias ou sensações possam igualmente dar cabo ao medo da finitude.

Ainda, Gilberto Azzi, Ph.D em neurociência pela Universidade Estadual de Michigan argumenta: '“A fé é a sensação de certeza de que tudo está resolvido, que há um alento, o que tem efeito pacificador no cérebro. A religião é uma solução menos dolorosa para enfrentar a vida porque a dúvida incomoda e angustia”.' O que incomoda realmente nesta frase é o fato de que Gilberto Azzi concorda e assina embaixo que a religião é o “ópio do povo”, ao dizer que ela nos dá a “sensação de certeza”, e que esta, por algum motivo, possa ser melhor que a certeza propriamente dita, como, por exemplo, a certeza de que homens e macacos realmente tem um ancestral comum. Este fato da evolução humana não é mais discutido pela ciência, pois não há mais nada que nos prove o contrário, e quando digo “nada”, refiro-me a outro processo empírico que negue este fato.

Albert Einstein, grande físico do século XX, não tinha uma postura religiosa ou cética definida, pois muito são os seus aforismos com relação a esses dois assuntos:

“'Religião sem fé é manca. Fé sem religião é cega.”'

“'Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.'”

Nota-se com isso que as contribuições de Einstein para a ciência não têm uma relação estreita com a fé, e nem precisaria realmente ter, haja vista que o enfoque de Einstein estava no concreto, e não no abstrato. O próprio Stephen Hawkins ousou dizer que os buracos negros seria uma “obra de deus” até o momento em que conseguiu compreender novas características deste fenômeno astronômico e voltou atrás nesta afirmação.

Conclui-se, portanto, que a religião e a ciência não tem um vínculo tão estreito como se imagina, muito pelo contrário: cada vez mais a ciência se distancia da religião para sanar as dúvidas e gerar soluções para os seres humanos ao invés de ater-se na passividade da espera de uma entidade dita superior criada pelo homem (assim como todos os outros deuses) para que “leis divinas” escritas pelos mesmos homens sejam cumpridas. A ciência ainda não encontrou deus, e provavelmente está longe de se render à isso.

Thursday, December 15, 2005

Vox

Que me vale um 25/12?

Por Luiz Guilherme Amaral


Vigésimo quinto Natal da minha vida, vigésimo quinto dia do mês. Seria cabalístico se tivesse algum nexo. Com vinte e cinco anos, já passei de várias fases que esta data proporciona: personifiquei Papai Noel (ele é apenas ‘Papai’, ou José Francisco), não me propus a achar que esta é a data que Jesus Cristo nasceu, pois me é infantil demais tampouco penso em ser vegetariano com aquele pernil que me sorri de forma marota. Mas algo me fascina nesta data: a cada ano ela chega mais cedo, e com isso, a publicidade em torno dela.

Teimo em crer que dentro de uns três anos, mais ou menos, Papai Noel chacoalhará sua sineta logo em Julho, para espanto de muitos e alegria de outros. As lojas já estarão cheias de vermelhos barbudos deixando as crianças ensandecidas e os pais aflitos, pois o décimo terceiro ainda está longe. De Julho até Dezembro, veremos anúncios maravilhosos como os da Coca Cola e outros minguantes, como os “varejões”, sempre do mesmo formato. Já imaginaram nosso amigo “quer pagar quanto?” buzinando em nossas orelhas por seis meses ininterruptos vomitando aquele monte de ofertas, com a desculpa de que "bancar o bom velhinho não tem peço"?

Particularmente, o Natal para mim tem o intuito único de ver meus amigos e parentes todos juntos. O ateísmo me permite pensar em coisas que vão além de fábulas orientais, como presépios, estrelas cadentes e reis magos. Até algum tempo não tinha visto nenhuma desvantagem em ser ateu, mas quando se é redator publicitário e lhe encarregam da tarefa de desenvolver cartões de Natal, tudo fica muito complicado. Em consulta com alguns colegas da agência onde trabalho, não consegui absorver o espírito de Natal, mas consegui compreendê-lo sob uma ótica própria a ponto de já me considerar uma espécie de “católico honoris causa”. Achei até que podia ser crismado depois daquela sessão bíblica.

Outra coisa que me deixa pensativo nisso tudo é o espírito de fraternidade que paira sobre os seres humanos nessa época. Demagogia ou não, é a época de se fazer em trinta dias o que não se fez em todos os outros, ou que até pensou-se em fazer, mas a preguiça, a pressa e as preocupações não permitiram. As estrelas de televisão, ascendentes e cadentes como as da fábula oriental, contorcem-se em mil poses distribuindo presentes para crianças que nem sabem porque elas (as 'estrelas') estão lá, muito menos os nomes, mas também não faz a menor diferença. Bom mesmo é o caminhão de plástico, a boneca descabelada e a sopa quente.

Enfim, o Natal vai embora. As crianças ficam felizes, os pais ficam felizes e com o bolso dolorido, Roberto Carlos vai a mais um especial de fim de ano e começa aquela nova pontinha de ansiedade. Desta vez, para encher a cara de uísque no Reveillon. Vinte e cinco Natais já se passaram. Deus não existe, isso para mim é fato, mas existe uma mesa cheia de pessoas queridas com um belo peru a nos esperar. Feliz Natal!

Friday, December 09, 2005

Comportamento

DJs: Explosão Demográfica Fashion

Por Luiz Guilherme Amaral


Foi-se o tempo em que o DJ era apenas um contratado para tocar músicas e fazer o povo dançar. Desde o surgimento dessa profissão, nunca houve um vislumbre tão grande em ser o centro das atenções em uma casa cheia de adolescentes com os hormônios vazando pelos poros e fôlego para dançar músicas produzidas por "pickups(1)", "samplers(2)","scratches(3)" e outros infinitos estrangeirismos que dão mais charme ainda a esses profissionais. Ser DJ no século XXI é representar tudo o que há de "avant garde(4)" para a geração de jovens. Eles são hoje uma referência para quem vive guiado por estilos contemporâneos, como roupas, música ou qualquer outro tipo de linguagem característica das tribos eletrônicas. São os xamãs da noite, assediados por meninas já rotuladas de "maria-pickups"(dissidentes das maria-chuteiras, da época de Garrincha e companhia) e causando frisson em públicos estrondosos nas "raves" que surgem freneticamente no mundo inteiro.

Os que obtiveram reconhecimento mundial, como Marky Mark, Patife, entre outros, têm motivos de sobra para orgulharem-se da imagem que ostentam. Marky Mark revolucionou boa parte do mundo da música eletrônica por vir de origem humilde e por fazer de cada segundo de música sua marca registrada. Desde o clássico "pump it up"(Technotronic) nos áureos anos oitenta, uma infinidade de vertentes surgiu a partir da criatividade dos "disc jockeys", ou "Dee Jays". Com o auxílio de suas ferramentas, metros e mais metros de fios e ensurdecedores decibéis, eles foram capazes de criar estilos como "house", "techno", "trance", "psy-trance"(lê-se "sai trénss") e mais uma dúzia deles, todos com os seus respectivos apreciadores e consumidores, que distinguem inúmeras diferenças entre um e outro estilo.

Geralmente são jovens fiéis aos padrões mais atuais ditados pelos formadores de opinião da moda da Inglaterra e dos Estados Unidos, haja vista a extensa lista de termos em inglês que eles utilizam. Os mais humildes fazem empréstimos dos pais para comprar o equipamento básico, cujo preço gira em torno de R$ 2.500,00. A partir da aquisição da aparelhagem, divulgam seus nomes aos quatro ventos, pois sabem que serão requisitados onde houver mais de 20 pessoas e uma tomada. Em casos mais extremos, chegam às casas noturnas rodeados de seguranças, com direito a apresentação apoteótica e cachês de até R$ 1.500,00 para se apresentarem por 2 horas no máximo. São eles os responsáveis por instigar a sede dos jovens e fazer o dinheiro deles chegar ao caixa das casas, de preferência antes que o consumidor exagere na bebida e tenha que ser levado para o hospital, deixando uma dívida a ser paga sabe-se lá quando. A cabine dos DJs é o lugar mais disputado por quem deseja sugar um pouquinho dessa popularidade e obter por alguns instantes atenção da massa mais do que a própria música que está sendo tocada. Nas cabines concentram-se outras celebridades, como atores, modelos e produtores e têm o status de "altar", pois é lá que é criada a força motriz que fará tudo acontecer naquele momento.

Existem casos e casos de DJs. Há os que sobrevivem apenas disso e os que fazem da profissão um complemento de renda. São muito comuns os casos de jovens que abandonam os estudos para se dedicarem a isso, e aí chegamos a uma questão que deve ser amplamente debatida. Um DJ não é um profissional essencial como um médico ou um advogado, portanto sabe-se que o tempo de vida dele está no fio da navalha por conta da velocidade em que a tecnologia progride. Muitos músicos são adeptos do uso de tecnologias avançadas para aumentar o leque de opções na hora de compor arranjos e criar efeitos para suas músicas, mas há um outro lado que se nega a utilizar tais tecnologias sob a alegação de que "quebraria a aura da música". Hoje já não é necessário ter um baixista ou um baterista para se gravar um CD. Programas de computador podem fazer o papel dessas pessoas com extrema facilidade, bastando que haja um engenheiro de som e um arranjador. No mesmo caso dos DJs, chegará o dia em que pequenos dispositivos, como os iPods(5) com função "random"(músicas selecionadas aleatoriamente), substituirão esses profissionais, e ainda por cima poderão executar com extrema precisão os mesmos "scratches" e idéias que resultarão em novas batidas, tudo isso com um banco de dados e um chip muito bem estruturado. Caberá ao DJ apertar o "power" desses dispositivos e observar o resultado causado com "playlists"(6) programados com meia hora de antecedência e os efeitos criados automaticamente. Com a viabilidade dessa tecnologia, qualquer pessoa poderá exercer a profissão de DJ a hora que quiser, desde um simples adolescente trancado no seu quarto até os "macacos-velhos" que já estão com os pulsos estourados de tanto segurar discos e apertar inúmeros botões.

É oportuno pensar também que essa profissão não se resume apenas ao status e ao consumismo em si. Há também a questão do prazer de botar um vinil para tocar e criar algo em cima do que está gravado, mas é impossível não temer que daqui a dez ou quinze anos, essa profissão se torne apenas mais uma marca de uma geração e que seus profissionais desfrutem dos ganhos que obtiveram, caso haja sucesso, ou do temível anonimato e da busca de uma nova profissão. Jovens que hoje têm 18 anos e pensam que a vida se resume em tocar discos para o povo dançar podem estar sujeitos a freqüentarem salas de cursinho pré-vestibular quando chegarem aos seus 28, 30 anos. É algo para se pensar.

Glossário:

(1) pickup - equipamento utilizado pelos Djs. Consiste em dois toca-discos(ou toca CDs) e um "mixer", ou seja, um painel de controle onde se faz a transição entre um disco e outro e possibilita a criação de efeitos.

(2) sampler - dispositivo no qual o DJ separa um trecho de uma música para ser trabalhado isoladamente do todo.

(3) scratch - técnica onde o disco que está sendo tocado é manipulado de forma a criar um som semelhante ao "rasgar" ou "coçar"

(4) avant-garde - parcela da "intelligentsia" responsável por introduzir no cenário cultural, artístico etc. técnicas, idéias e conceitos novos, avançados; vanguarda (fonte: dicionário Houaiss)

(5)iPod - dispositivo criado pela Apple Computing Inc. que possui a mesma função de um walkman, porém com memória para armazenar músicas em formato MP3.

(6) playlist - uma lista onde são inseridas as músicas que serão tocadas, tal como a programação de uma rádio.

Tecnologia

Windows pronto para o Carnaval

Por Luiz Guilherme Amaral

Já faz algum tempo, na época do saudoso Windows 3.1, quando surgiu um simpático programinha chamado ‘Icon HearIt’ onde todos os ícones e eventos da interface poderiam ser animados e ter sons. Era uma febre ver todos os ícones se mexendo, fazendo gracinhas no cursor e ouvir aquela voz feminina dizendo ‘minimize’ e ‘maximize’ a ponto de deixar qualquer pessoa alheia às nossas atividades loucas. De lá para cá muito da interface do Microsoft Windows mudou, bem como sua estrutura também trouxe avanços e atrasos perceptíveis. Hoje a interface continua personalizável, porém o poder é muito maior. Os programas que fazem mágicas com a aparência dos desktops são cada vez mais utilizados para que o azul enfadonho e a barra de tarefas imutável possam ganhar uma cara nova e deixar as tarefas do dia-a-dia mais agradáveis. Não se trata de um lifehack, mas sim de um visual hack.

Nas últimas semanas testei o programa ‘WindowBlinds’ da Stardock Corporation e fiquei realmente impressionado em como o desktop pode ganhar uma cara nova e continuar “estável” (usuários de Windows conhecem bem os parâmetros de ‘sistema estável’). Instalei uma versão trial do produto e configurei a aparência do Mac OS X. Pronto! Lá estava eu andando de Fusca com uma carcaça de Porsche. Tudo funciona muito bem, apesar de o Photoshop não reconhecer os widgets para janelas toolbox (que não se pode minimizar ou maximizar). O sistema não fica muito carregado pois o WindowBlinds age direto nas APIs que cuidam da interface gráfica, não necessitando que o programa fique na bandeja (espaço ao lado do relógio). É claro que se você não optar por mudar alguns elementos de navegação, como colocar a barra de tarefas na parte superior do vídeo, você só consegue um bom efeito de janelas, mas não terá a real sensação de usar a mesma interface do Mac. Outros pequenos programas podem ser adicionados, como o ObjectDock, também da StarDock, que simula o menu do Mac OS X com aquele efeito de aumentar o ícone quando ele é apontado. Mas não só a interface da Apple pode ser utilizada. Há uma centena de interfaces criadas por usuários e outros pequenos gadgets que deixam o Windows mais divertido.

Depois de brincar vários dias com essas interfaces, o programa expirou e, para minha surpresa, não deixou nenhum spyware ou qualquer outro componente solto no meu disco rígido, chamando DLLs malucas e fazendo meu sistema endoidecer. A versão 5 do WindowBlinds custa US$ 19,95 e pode ser comparada com cartão de crédito ou via Paypal. Já o ObjectDock custa 49,95 e ambos podem ser encontrados no site http://www.windowblinds.com. Particularmente, prefiro manter a minha nova instalação do Ubuntu Linux e não precisar burlar programas e sistemas para que o Windows se pareça com algo que está longe de ser: confiável e bonito.